quinta-feira, 3 de junho de 2010

Despertar Musical

Já estou quase há um ano e meio trabalhando na TV Cultura. Desde o primeiro dia que entrei lá aprendi muito, tanto profissionalmente como pessoalmente.
Depois de um ano na produção do "Vitrine", alguns meses no núcleo de dramaturgia, na produção do especial "Autor por Autor", agora estou na produção do programa "Ao Ponto", voltado para adolescentes.
Na última quarta-feira tive minha primeira experiência em estúdio no "Ao Ponto", já gravando dois programas no mesmo dia.
A plateia era formada por adolescentes na faixa dos 15 aos 20 anos, e para minha alegria, os músicos convidados da primeira gravação eram o Simoninha e o Max de Castro, com o Baile do Simonal.

Quando eu era mais nova, minha mãe havia me contado muito por cima a história do Simonal, referenciando a ligação dele com o DOPS, comentando sobre o sucesso dele e a decadência, etc.
Durante a minha adolescência eu conheci o Simoninha e o Max de Castro através do meu gosto natural que foi se voltando para a MPB, mas confesso que se conheço 4 músicas dos 2 juntos é muita coisa mesmo. Meus ouvidos conhecem bem mais as músicas do pai deles, o Simonal, do que o repertório dos filhos.
No ano passado assisti o documentário "Simonal, ninguém sabe o duro que dei", que desmistifica a relação do Simonal com o DOPS, além de mostrar a dimensão do talento artístico dele, seu sucesso na época, e sua queda devastadora. O filme não te dá uma opinião ou um julgamento sobre a postura do Simonal, ele simplesmente te conta a história de um excelente artista e faz você tirar suas próprias conclusões sobre o que aconteceu com ele depois do avassalador sucesso.
Acredito que a intenção dos realizadores tenha sido muito mais apresentar a obra do Simonal para essa geração de agora (que foi privada de tê-lo como referência musical, por conta de seus erros no passado), do que promover um julgamento de suas atitudes ou qualquer outra coisa do tipo.
O fato é que eu já conhecia um pouco desse talentoso artista, e passei a conhecer muito mais e admirá-lo artisticamente depois do filme. Me integrei a história e à referência cultural brasileira que ele representa.




Voltando à gravação, alguns minutos antes da plateia se dirigir ao estúdio me perguntaram quem iria tocar no programa, e respondi avisando sobre o Simoninha e Max de Castro. Para meu espanto, ninguém sabia quem eram eles, nunca tinham escutado falar, tentei falar sobre o Simonal, e parece que foi pior ainda, alguns que não estavam acompanhando o assunto sobre a atração musical e pegaram o bonde andando, chegavam e perguntavam se Simonal era ator ou algum outro apresentador! Confesso que fiquei realmente espantada com a cara de decepção de alguns por não conhecem eles, chegamos a brincar e questionar se eles conheciam a banda Restart, adivinhem a resposta?
Só de ouvir esse nome, algumas garotas se animavam absurdamente, todos da plateia, sem exceção conheciam a banda.
Fiquei me perguntando, quais serão as referências musicais dessa garotada daqui alguns anos?
Nada contra com bandas teens como Restart, Cine, etc... Mas mesmo essas bandas tiveram como referência bons cantores, músicos e grupos do passado.
O nosso presente, as nossas referências, são construídas através do quê? Dos nossos pais? Dos nossos amigos? Na escola?
Tenho um certo receio de que as próximas gerações mal conheçam os Mutantes, Chico Buarque, Elis Regina, Caetano Veloso, Gilberto Gil, e outros diversos artistas essenciais para formação musical do nosso país.

1 comentários:

Anônimo disse...

Pois é, a imensa disponibilidade de meios de comunicação e de informações que circulam dentro deles deviam ser responsáveis, teoricamente, por um maior conhecimento, pela oportunidade das pessoas expandirem sua visão e quebrarem preconceitos. Mas parece que hoje, a intenção da maior parte das pessoas para com esse meios é ficar famosa a qualquer custo, assim como seus artistas preferidos.

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